quarta-feira, 24 de abril de 2013

 O que é um conto? (continuação)
Os contos populares são anónimos, de origem longínqua e imemorial. Porém, nos nossos dias, os contos populares são antes de mais textos fixados pela escrita nas revistas foclóricas, nas recolhas dos estudiosos, nos livros para crianças. Durante muito tempo fizeram parte de uma cultura viva, transmitida oralmente ao longo dos séculos, fundo comum que se encontra, sob variantes mais ou menos próximas, em todas as culturas e regiões do globo. Daí que, num certo sentido, possam ser considerados como a mais universal de todas as formas de narrativas.

Na verdade, trata-se de histórias simples, curtas, que apresentam personagens "tipo" vivendo situações "tipo". As limitações da vida humana e a semelhança das suas situações básicas produzem necessariamente por toda a parte contos que são muito semelhantes em todos os aspectos estruturais importantes. Têm uma forma e uma substância tão definida na cultura humana como o cântaro ou a enxada. 

Nas suas formas orais, literárias, "mass-mediatizadas", os contos permitem a crianças e adultos conceber estratégias para se posicionarem no mundo e compreender o que os rodeia. Aprendidos na infância, fornecem significados, estruturam e dão forma às figuras e aos conflitos com que o homem se confronta no seu dia-a-dia.

Contados de geração em geração ao longo dos séculos, foram adquirindo várias fórmulas. Começam muitas vezes por "Era uma vez…" e terminam "…e viveram sempre felizes".A fórmula "era uma vez", não só ajuda um conto fantástico a atingir credibilidade, como salienta a universalidade dos temas presentes; os conflitos não são locais mas de todos os tempos e para todos os lugares. Se as personagens centrais vivem "felizes para sempre", é porque se desenvolveram como seres humanos, porque merecem a felicidade que recebem.

Se se tomar como exemplo a história de Cinderela, entre as trezentas e tal versões descobertas, da China aos Estados Unidos, as emoções retratadas são similares em quase todas as versões, mas as manifestações individuais dessas emoções reflectem os costumes e as crenças do grupo que conta a história.

Segundo Bruno Bettelheim (1976), o que distingue os contos de fadas das outras narrativas orais ou escritas é a resolução final dos conflitos. O conto de fadas fornece sempre elementos de resposta, que podem variar conforme as culturas e as formas de organização social, mas ensina sempre que certos perigos, problemas e situações podem ser ultrapassados se forem encarados com perseverança.
                                                                                                           In  www.educ.fc.ul.pt 

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